A campainha da porta, o intercomunicador, o elevador. Era uma vez, a partir do final do século XIX, carregar no botão que activava esses dispositivos era uma experiência nova e estranha. O botão elétrico, a interface agora aparentemente mundana entre o homem e a máquina, foi originalmente uma faísca de espanto, ansiedade e transformação social.
Como explica a académica Rachel Plotnick, especialista em estudos dos media, as pessoas receavam que o botão elétrico fizesse atrofiar as capacidades humanas e perguntavam-se se esses dispositivos iriam fechar as maravilhas da tecnologia numa caixa negra: "sem esforço, opaca e, portanto, inquestionável para os consumidores".sinos, botões e campainhas.
"Alguns acreditavam que os utilizadores deveriam interrogar criativamente estes objectos e aprender como funcionavam como parte de uma educação eléctrica mais ampla", explica Plotnick. "Outros... sugeriam que carregar em botões poderia ajudar os utilizadores a evitar experiências tecnológicas complicadas e laboriosas. Estas abordagens reflectiam as tentativas de diferentes grupos para gerir o medo da eletricidade."
Os botões eléctricos, essencialmente interruptores para ligar/desligar circuitos, surgiram no mercado na década de 1880. Tal como acontece com muitas inovações tecnológicas, apareceram em vários locais e sob diferentes formas. Os seus antecessores eram botões mecânicos e manuais, como as teclas dos instrumentos musicais e as máquinas de escrever. Antes da eletricidade, os botões accionavam um mecanismo de mola ou uma alavanca.
A própria palavra "botão" vem do francês bouton É impossível identificar uma única origem do botão de pressão, escreve Plotnick, mas tais interfaces incluíam os "botões inanimados que adornavam as roupas". Entre 1880 e 1920, centenas de pedidos de patentes foram feitos para "botões eléctricos" ou "botões de pressão".
No final do século XIX, muitos leigos tinham um "conhecimento prático não só da eletricidade, mas também dos botões que carregavam e da relação entre os dois", segundo Plotnick. No entanto, aqueles que promoviam a eletricidade e vendiam aparelhos eléctricos queriam que as interfaces de botões fossem "simplistas e sem preocupações","Você carrega no botão, nós fazemos o resto" - o famoso slogan da Eastman Company para as máquinas fotográficas Kodak - pode ser entendido como o slogan de todo um modo de vida.
Em última análise, a ideia de que a eletricidade era uma espécie de magia acabaria por triunfar sobre uma abordagem mais prática e desmistificadora.
Plotnick cita um educador e ativista de 1916, que lamentava que carregar num botão "parece libertar a pessoa de qualquer necessidade de responsabilidade sobre o que se passa por detrás do botão". Isto ressoa agora, mais de um século depois, quando a tecnologia é ainda mais complicada e está ainda mais intimamente entrelaçada com as nossas vidas. A "caixa negra" reina suprema.