10 Poemas para o Mês da Herança Hispânica

"A poesia", recorda-nos o escritor mexicano Octavio Paz, é uma "ponte suspensa entre a história e a verdade". Por esta razão, uma das formas mais significativas de celebrar o Mês Nacional da Herança Hispânica pode ser prestar uma atenção inabalável ao verso.

Os dez poemas que se seguem não só atravessam todo o hemisfério ocidental - do Río de la Plata ao Mission District de São Francisco - como também abrangem várias línguas - do espanhol e do inglês ao maia de Yucatec e ao português - e reflectem a rica herança que constitui o maior grupo minoritário dos Estados Unidos.

Incluímos selecções de cada um dos poemas. Para ver as obras completas, clique nas ligações.

"À Esperança", de Sor Juana Inés de la Cruz (traduzido por Harry Thomas)

mas quanto a mim, inseguro da sorte, eu

manterei os meus olhos bem protegidos pelas minhas mãos,

e só vejo as coisas em que posso tocar.

"To Roosevelt", de Rubén Darío (traduzido por Lysander Kemp)

Pensas que a vida é um fogo,

que o progresso é uma irrupção,

que o futuro está onde

a tua bala atinge.

Não.

"As Asas", de Delmira Agustini (tradução de Beth Tornes)

Um dia, estranhamente

a cair na terra,

Dormi no profundo pelúcia desta floresta.

"José", de Carlos Drummond de Andrade (tradução de Jean R. Longland)

E agora, José?

A festa acabou,

as luzes apagaram-se,

os convidados foram para casa,

a noite ficou fria,

e agora, José?

"Call Out My Number", de Julia de Burgos (traduzido por Julio Marzán)

Será que eles querem o caixão do vento

escondido no meu cabelo emaranhado?

Ou o desejo ansioso da corrente

morto no meu cérebro de poeta?

"La fotografía", de José Watanabe

Mais tarde, no seu laboratório, depois de a luz

imprime o papel fotográfico

empezaré a asomar tenuemente, lentamente

na bandeja do ácido revelador. Aparecerá

como él espera que apareçam todos os poetas

"Tríptico dos contrassons anacrónicos", de Excilia Saldaña

Mano, ciérrate en puño... ábrete en llaga

cúrate en la infiel chispa que es la mía.

Busca manar segura de seu daga.

"O dique: carta a ninguém", de Lorna Dee Cervantes

Hoje observei uma mulher junto à água

chorar. Era parecida com a minha mãe: vermelha

calças elásticas, top de lazer azul,

o seu cabelo num ninho de ovos de meia-idade.

"Tiempo transfigurado", de Eugenio Montejo

O rochedo que não se vê em nenhum espejo

porque tarda em nascer ou já não existe,

pode ser de qualquer um de nós,

-a todos parece.

"Kite", de Briceida Cuevas Cob (tradução de Jonathan Harrington)

Memória

é um papagaio.

Pouco a pouco, deixa-se ir,

a desfrutar do seu voo.

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